quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Este vídeo mostra uma realidade que muitos usuários de drogas não enxergam ou não querem enxergar. Dizem que não prejudicam ninguém a não ser eles mesmos. Não se dão conta que o narcotráfico se alimenta da sua grana e sai matando inocentes por aí.

Conexão impossível: drogas e Paternidade Responsável (por Richardson Luz)

Determinados fenômenos sociais não estão devidamente dimensionados, dificultando as correlações entre eles e conseqüentemente, impedindo o surgimento de políticas públicas eficazes. Um desses fenômenos refere-se ao abuso de substâncias psicoativas (SPA) também conhecidas como drogas.
O termo abuso, para o Instituto Nacional contra o Abuso de Drogas dos Estados Unidos (National Institute for Drug Abuse - NIDA), subentende o uso normal de qualquer droga ilícita e o uso abusivo de drogas lícitas. Drogas lícitas e ilícitas ou SPA são substâncias que após serem inseridas na corrente sanguínea, via oral – fumando ou ingerindo; aérea – cheirando, inalando ou aspirando, ou intravenosa – através de injeções, provocam no usuário modificações de comportamento e percepção e nesse ponto, a maioria das pessoas já não responde mais por seus atos, daí os freqüentes casos de assassinatos, estupros e outros crimes relacionados ao estado de ânimo do autor do fato.
Deve-se deixar claro que há uma diferença entre o uso ocasional de drogas e a dependência química. Uso ocasional inclui o uso de qualquer droga ilícita de forma esporádica, sem uma frequência determinada. É quando o usuário utiliza a SPA num encontro com amigos ou alguma comemoração. Normalmente este uso causa algum problema perfeitamente contornável no trabalho, em casa, ou entre amigos não usuários. O dependente químico, pelo contrário, vive em função da droga e faz tremendos esforços para adquiri-la e disfarçar o uso. É desse tipo de usuário e dos problemas relacionados à dependência química que se falará neste artigo, relacionando esses problemas com a nobre missão da Paternidade Responsável.
O princípio da paternidade responsável foi eleito como prioridade absoluta para a proteção integral a crianças e adolescentes na Constituição Federal de 1988, artigo 227, e inclui a preocupação com a formação do cidadão de amanhã e não só a família, mas também a sociedade, e o Estado possuem responsabilidade nessa formação, mas “Nada justifica livrar o genitor das obrigações decorrentes do poder familiar, que surgem desde a concepção do filho” (¹). Em São Paulo e em São Sebastião do Caí - RS houve programas intensos de estímulo ao reconhecimento formal da paternidade de seus filhos.
No entanto relegar à paternidade responsável única e exclusivamente o simples reconhecimento formal de paternidade é “no mínimo, amesquinhar a paternidade” (²). Até mesmo nas escrituras sagradas há conselhos para os pais, responsabilizando-os com sua criação; “instrui o menino no caminho em que deve andar, e até quando envelhecer não se desviará dele” (³). Nesse sentido, toda a paternidade deve ser planejada, e acima de tudo, os responsáveis devem instruir os filhos nos costumes e regras sociais vigentes, deve-se também, como pais (ou cuidadores) prover o bem estar alimentício, financeiro, espiritual e acadêmico às crianças.
Nesse sentido, como pode um pai envolvido com drogas, bebidas alcoólicas em excesso e noitadas em bares cumprir esse chamado? Como pode um pai que só pensa em saciar sua vontade de usar drogas ser um pai responsável? Como pode um pai ser responsabilizado pelas agressões que comete a seus filhos ou esposa, quando sob o efeito de SPA? Estudos sociológicos apontam que as drogas, em geral o álcool, as anfetaminas, a cocaína e seus derivados inclusive o crack e outros estimulantes são os principais aditivos relatados em episódios violentos. Alguns estudos, no entanto, não consideram conclusivos os resultados de diversas pesquisas científicas relacionando drogas e violência, no entanto, algumas ações que limitaram o acesso ao álcool, como por exemplo, o fechamento dos bares da periferia às 23h na cidade de Diadema – São Paulo, até então considerada um dos locais mais violentos do Brasil, provocaram uma radical queda nos índices de homicídios da região, como relata o site da Agência Brasil de Comunicação(4);
“Nos anos 90, Diadema registrava uma das maiores taxas de homicídios do país. Em 1999, foram registrados 374 assassinatos. Um conjunto de políticas públicas bem-sucedidas, que tem como principal eixo o fechamento de bares às 23h, diminuiu gradativamente o número de casos. Em 2007, último balanço anual consolidado, ocorreram 80 mortes”.
Normalmente o abuso de drogas e os problemas que dele decorrem afetam em primeiro lugar e principalmente a família do usuário. O fato é que as SPA provocam distorções, às vezes radicais, na percepção e no comportamento dos indivíduos que as utilizam ou fazem uso abusivo delas. Não há como conciliar numa mesma vida e num mesmo lar o fenômeno da drogadição e a paternidade responsável, trata-se de uma conexão impossível e isso é inegável.
A grande maioria dos casos de violência contra crianças está calcada no abuso de drogas. A figura paterna assume enorme importância na vida familiar que qualquer criança. Existem estudos que comprovam que um relacionamento bom com o pai (ou de quem representa a figura paterna) protege os jovens de experiências com drogas. Isso não significa que apenas pelo fato de haver um pai dentro de casa, um filho não irá usar drogas, milhares de crianças no Brasil são criadas somente pelas mães e, no entanto, não são usuárias de drogas, tornaram-se estudantes talentosos ou profissionais dedicados. As mães brasileiras, muitas vezes fazem um duplo papel, já que os verdadeiros pais fogem da responsabilidade, ou simplesmente é melhor que não estejam presentes devido a seu estado psicológico.
Ser pai envolve uma série de atitudes responsáveis que protegem os jovens. Além de ser pai de fato, deve-se reconhecer a paternidade e assumir as responsabilidades decorrentes dessa condição. O pai ou cuidador deve controlar as condições do ambiente familiar no que concerne ao acesso a drogas. No seio de uma família existem tantos fatores protetivos (que evitam uma experiência com drogas) quantos fatores de risco (que facilitam experiências com drogas). Entre os fatores que protegem os jovens de experiências com drogas lícitas e ilícitas, por exemplo, é a não tolerância dos pais com respeito ao uso de bebidas alcoólicas, ou seja, pais permissivos com relação ao álcool podem ter algum dia uma triste surpresa; seu filho ou filha e chegarem em casa completamente embriagados. Isso pode significar o início de uma história de dependência química de álcool e sucessivas internações em clínicas ou comunidades terapêuticas. O mesmo ocorre em relação ao cigarro (tabaco), que desenvolve dependência muito facilmente. Atualmente percebe-se que diversos estudos apontam para um início cada vez mais cedo (em média 13 anos de idade) do hábito de fumar. O perigoso nisso tudo é que estudos apontam o álcool e o tabaco como as verdadeiras portas de entrada para o uso de outras substâncias mais tóxicas. Pesquisa realizada no México com usuários de drogas ilícitas (maconha, cocaína e crack), revelou que todos eles começaram com tabaco e álcool, para depois avançar para as drogas ilícitas. A permissividade com relação a álcool e tabaco pode levar o jovem a querer experimentar outras substâncias para “ver o que é que dá”, nesse sentido, também a curiosidade funciona como fator de risco ao abuso de drogas.
O fator de proteção à curiosidade é o conhecimento sobre os efeitos das principais drogas de abuso. Assim, o diálogo e a confiança entre pai e filhos são de suma importância para se evitar o abuso precoce de drogas. Mas, se o problema estiver justamente aí? Ou seja, se o próprio pai ou cuidador é dependente químico? Como pode um pai responsabilizar-se pela vida que ajudou a colocar no mundo, se a sua prioridade é conseguir a droga? Como pode um pai dispor de tempo para uma criança, educá-la e dar a ela carinho e amor, se o que ele mais ama na vida é a SPA? O ato de ser pai (biológico ou não) é um ato de amor que exige muitas vezes abnegação, dedicação e paciência, e um dependente químico não possui estas qualidades por estar doente demais para cuidar de outros assuntos. Um dependente químico é um doente e precisa de ajuda urgentemente, mesmo que no momento da abordagem ele afirme que está bem, que não precisa de ajuda. Um pai responsável fica alerta para pequenos episódios que possam levar à crença de que usar drogas é “normal”, o que muitas vezes começa em nossa família como uma brincadeira (molhar a chupeta da criança no vinho, Por exemplo) pode muitas vezes desencadear uma série de eventos desagradáveis que irão culminar num jovem irresponsável e numa pessoa totalmente desinteressada pela sua condição de paternidade. Nesses casos seria fácil deduzir que a paternidade responsável (e a irresponsável) se reproduz de geração em geração. Alguém disse: “Como pode um jovem que nunca foi amado amar?”.
1 Maria Berenice Dias.
2 Fábio Henrique Prado de Toledo, Juiz de Direito em Campinas.
3 Walter Santos Baptista, pastor da Igreja Batista Sião em Salvador, Bahia.
Richardson Luz é sociólogo e coordenador do Núcleo de Prevenção às Drogas e à Dependência Química da ONG Brasil Sem Grades.

Conexão impossível: drogas e Paternidade Responsável


Por Richardson Luz
Determinados fenômenos sociais não estão devidamente dimensionados, dificultando as correlações entre eles e conseqüentemente, impedindo o surgimento de políticas públicas eficazes. Um desses fenômenos refere-se ao abuso de substâncias psicoativas (SPA) também conhecidas como drogas. O termo abuso, para o Instituto Nacional contra o Abuso de Drogas dos Estados Unidos (National Institute for Drug Abuse - NIDA), subentende o uso normal de qualquer droga ilícita e o uso abusivo de drogas lícitas. Drogas lícitas e ilícitas ou SPA são substâncias que após serem inseridas na corrente sanguínea, via oral – fumando ou ingerindo; aérea – cheirando, inalando ou aspirando, ou intravenosa – através de injeções, provocam no usuário modificações de comportamento e percepção e nesse ponto, a maioria das pessoas já não responde mais por seus atos, daí os freqüentes casos de assassinatos, estupros e outros crimes relacionados ao estado de ânimo do autor do fato. Deve-se deixar claro que há uma diferença entre o uso ocasional de drogas e a dependência química. Uso ocasional inclui o uso de qualquer droga ilícita de forma esporádica, sem uma frequência determinada. É quando o usuário utiliza a SPA num encontro com amigos ou alguma comemoração. Normalmente este uso causa algum problema perfeitamente contornável no trabalho, em casa, ou entre amigos não usuários. O dependente químico, pelo contrário, vive em função da droga e faz tremendos esforços para adquiri-la e disfarçar o uso. É desse tipo de usuário e dos problemas relacionados à dependência química que se falará neste artigo, relacionando esses problemas com a nobre missão da Paternidade Responsável.O princípio da paternidade responsável foi eleito como prioridade absoluta para a proteção integral a crianças e adolescentes na Constituição Federal de 1988, artigo 227, e inclui a preocupação com a formação do cidadão de amanhã e não só a família, mas também a sociedade, e o Estado possuem responsabilidade nessa formação, mas “Nada justifica livrar o genitor das obrigações decorrentes do poder familiar, que surgem desde a concepção do filho” . Em São Paulo e em São Sebastião do Caí - RS houve programas intensos de estímulo ao reconhecimento formal da paternidade de seus filhos. No entanto relegar à paternidade responsável única e exclusivamente o simples reconhecimento formal de paternidade é “no mínimo, amesquinhar a paternidade” . Até mesmo nas escrituras sagradas há conselhos para os pais, responsabilizando-os com sua criação; “instrui o menino no caminho em que deve andar, e até quando envelhecer não se desviará dele” . Nesse sentido, toda a paternidade deve ser planejada, e acima de tudo, os responsáveis devem instruir os filhos nos costumes e regras sociais vigentes, deve-se também, como pais (ou cuidadores) prover o bem estar alimentício, financeiro, espiritual e acadêmico às crianças. Nesse sentido, como pode um pai envolvido com drogas, bebidas alcoólicas em excesso e noitadas em bares cumprir esse chamado? Como pode um pai que só pensa em saciar sua vontade de usar drogas ser um pai responsável? Como pode um pai ser responsabilizado pelas agressões que comete a seus filhos ou esposa, quando sob o efeito de SPA?Estudos sociológicos apontam que as drogas, em geral o álcool, as anfetaminas, a cocaína e seus derivados inclusive o crack e outros estimulantes são os principais aditivos relatados em episódios violentos. Alguns estudos, no entanto, não consideram conclusivos os resultados de diversas pesquisas científicas relacionando drogas e violência, no entanto, algumas ações que limitaram o acesso ao álcool, como por exemplo, o fechamento dos bares da periferia às 23h na cidade de Diadema – São Paulo, até então considerada um dos locais mais violentos do Brasil, provocaram uma radical queda nos índices de homicídios da região, como relata o site da Agência Brasil de Comunicação. “Nos anos 90, Diadema registrava uma das maiores taxas de homicídios do país. Em 1999, foram registrados 374 assassinatos. Um conjunto de políticas públicas bem-sucedidas, que tem como principal eixo o fechamento de bares às 23h, diminuiu gradativamente o número de casos. Em 2007, último balanço anual consolidado, ocorreram 80 mortes”.Normalmente o abuso de drogas e os problemas que dele decorrem afetam em primeiro lugar e principalmente a família do usuário. O fato é que as SPA provocam distorções, às vezes radicais, na percepção e no comportamento dos indivíduos que as utilizam ou fazem uso abusivo delas. Não há como conciliar numa mesma vida e num mesmo lar o fenômeno da drogadição e a paternidade responsável, trata-se de uma conexão impossível e isso é inegável. A grande maioria dos casos de violência contra crianças está calcada no abuso de drogas.A figura paterna assume enorme importância na vida familiar que qualquer criança. Existem estudos que comprovam que um relacionamento bom com o pai (ou de quem representa a figura paterna) protege os jovens de experiências com drogas. Isso não significa que apenas pelo fato de haver um pai dentro de casa, um filho não irá usar drogas, milhares de crianças no Brasil são criadas somente pelas mães e, no entanto, não são usuárias de drogas, tornaram-se estudantes talentosos ou profissionais dedicados. As mães brasileiras, muitas vezes fazem um duplo papel, já que os verdadeiros pais fogem da responsabilidade, ou simplesmente é melhor que não estejam presentes devido a seu estado psicológico. Ser pai envolve uma série de atitudes responsáveis que protegem os jovens. Além de ser pai de fato, deve-se reconhecer a paternidade e assumir as responsabilidades decorrentes dessa condição. O pai ou cuidador deve controlar as condições do ambiente familiar no que concerne ao acesso a drogas. No seio de uma família existem tantos fatores protetivos (que evitam uma experiência com drogas) quantos fatores de risco (que facilitam experiências com drogas). Entre os fatores que protegem os jovens de experiências com drogas lícitas e ilícitas, por exemplo, é a não tolerância dos pais com respeito ao uso de bebidas alcoólicas, ou seja, pais permissivos com relação ao álcool podem ter algum dia uma triste surpresa; seu filho ou filha e chegarem em casa completamente embriagados. Isso pode significar o início de uma história de dependência química de álcool e sucessivas internações em clínicas ou comunidades terapêuticas. O mesmo ocorre em relação ao cigarro (tabaco), que desenvolve dependência muito facilmente. Atualmente percebe-se que diversos estudos apontam para um início cada vez mais cedo (em média 13 anos de idade) do hábito de fumar. O perigoso nisso tudo é que estudos apontam o álcool e o tabaco como as verdadeiras portas de entrada para o uso de outras substâncias mais tóxicas. Pesquisa realizada no México com usuários de drogas ilícitas (maconha, cocaína e crack), revelou que todos eles começaram com tabaco e álcool, para depois avançar para as SPA ilícitas.A permissividade com relação a álcool e tabaco pode levar o jovem a querer experimentar outras substâncias para “ver o que é que dá”, nesse sentido, também a curiosidade funciona como fator de risco ao abuso de drogas. O fator de proteção à curiosidade é o conhecimento sobre os efeitos das principais drogas de abuso. Assim, o diálogo e a confiança entre pai e filhos são de suma importância para se evitar o abuso precoce de drogas.Mas, se o problema estiver justamente aí? Ou seja, se o próprio pai ou cuidador é dependente químico? Como pode um pai responsabilizar-se pela vida que ajudou a colocar no mundo, se a sua prioridade é conseguir a droga? Como pode um pai dispor de tempo para uma criança, educá-la e dar a ela carinho e amor, se o que ele mais ama na vida é a SPA? O ato de ser pai (biológico ou não) é um ato de amor que exige muitas vezes abnegação, dedicação e paciência, e um dependente químico não possui estas qualidades por estar doente demais para cuidar de outros assuntos. Um dependente químico é um doente e precisa de ajuda urgentemente, mesmo que no momento da abordagem ele afirme que está bem, que não precisa de ajuda. Um pai responsável fica alerta para pequenos episódios que possam levar à crença de que usar drogas é “normal”, o que muitas vezes começa em nossa família como uma brincadeira (molhar a chupeta da criança no vinho, Por exemplo) pode muitas vezes desencadear uma série de eventos desagradáveis que irão culminar num jovem irresponsável e numa pessoa totalmente desinteressada pela sua condição de paternidade. Nesses casos seria fácil deduzir que a paternidade responsável (e a irresponsável) se reproduz de geração em geração. Alguém disse: “Como pode um jovem que nunca foi amado amar?”.



1 Maria Berenice Dias.

2 Fábio Henrique Prado de Toledo, Juiz de Direito em Campinas.

3 Walter Santos Baptista, pastor da Igreja Batista Sião em Salvador, Bahia.

4 www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2009/02/03/materia.2009-02-03.6225955236/view*Richardson Luz é sociólogo e coordenador do Núcleo de Prevenção às Drogas e à Dependência Química da ONG Brasil Sem Grades.